Maria Zilda Ferreira Cury e outras
A ditadura civil-militar que teve lugar no Brasil entre os anos de 1964 e 1985 revelou-se como um os eventos mais traumáticos da história nacional ao romper com a democracia, seja por sua longa duração, seja pela violência que a caracterizou. O clima de terror que caiu sobre a sociedade brasileira fez desse período de trevas evento singular a repercutir até os dias atuais, com seus efeitos a ameaçar constantemente os direitos e as conquistas da redemocratização - ameaça tributária, em grande medida, da tentativa de negação de nossa herança histórica. Se a memória bloqueada impede a elaboração do trauma social, a arte, por sua vez, pode potencialmente contribuir com a importante tarefa de combater o negacionismo e o revisionismo históricos,
assumindo com responsabilidade a herança acolhida. Com isso, em seu caráter
testemunhal, a literatura brasileira contemporânea assume a condição legatária
que, afinal, deveria ser a de todos nós - em nome dos que foram silenciados e
impedidos de prosseguir no combate ao inimigo, e em nome também dos que
lutam por verdade e justiça, para que as gerações de hoje e de amanhã possam
viver melhor.
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